"A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal." ( Raul Seixas )

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Índio preguiçoso?

“Olha, uma vez tinha uns três caras falando perto de mim e gozando, índio é preguiçoso, índio não trabalha, índio não precisa de terra. (muita gente fala que índio não precisa de terra).
Aí eu chamei para sentar comigo, ele veio, eu comecei a falar: “Você tem quantos anos que mora aqui?”
Ele falou: “tem 28 anos que eu moro aqui”.
Eu falei para ele: “Você mora aqui há tanto tempo e nunca aprendeu nada sobre a história dos índios?”
Falei da bebida, perguntei pra ele. “Você já me viu bebendo aqui?”
Ele falou: “Não”.
“Então por que você está falando que índio é bêbado?”
Eu perguntei pra ele. “Todo branco é trabalhador?”
Ele falou: “Não”.
Então,” eu falei por que você está falando que só índio é que é preguiçoso? Você já foi na aldeia conhecer como é a vida dos índios, como é o nosso trabalho?”
Ele falou “Não”.
“Então por que você está falando que nós não trabalhamos?”
Perguntei também pra ele: “Você sabe falar a nossa língua?”
Ele falou “Não”.
Então eu disse: “Pois é eu estou falando a sua língua, eu estou entendendo como é que você fala. Então como é que você pode falar que índio é burro? que índio não sabe nada?
Ele levantou e foi embora”.
(Ex-aluno e professor Iny – Aldeia Majterytawa).

(...)

“Lá em São Félix, um dia, eu estava passando, aí uma criança, uma garotinha, ela me enxergou e começou a bater na boca com a mão fazendo um barulho com a mão.
Fazendo um barulho assim: Uuuu... Uuuu... Uuuuu...
Aí ela parou e perguntou pra mim: “Ô você é índio?”
Eu falei “sou Karajá”, aí ela falou: “Hei índo você tá vindo de onde é do mato?”
Eu falei: “Eu tou vindo da minha casa”.
Aí ela falou: “Ah! Você tá vindo da aldeia num é? Minha mãe falou que a aldeia é lá no mato. Você tá vindo do mato”.
Aí tem os pais também que falam para as crianças, para amedrontarem as crianças.
Não chora, ou não faz isso porque se não Karajá vem te pegar
(...)
Então as crianças vão crescendo com esse medo da gente, com esse medo do índio.
Os pais não ensinam que somos seres humanos como eles”.
(...).
(Ex-aluno e Professor Iny– Aldeia Majteritawa).

Fonte: Torres, M.S. "KARAJÁ É UM BICHO TRAIÇOEIRO": Alguns estereótipos presentes em nosso corpus.

Que absurdo! Que absurdo!
Gente! Índio também é gente! Até quando vão trata-lo com esse desprezo?
Minha indignação é tamanha, que não cabe aqui....melhor eu ficar quieta (por enquanto).


......Ainda tenho a esperança de quebrar esse preconceito ridículo com esses povos tão fantásticos, de beleza exulberante, ricos em cultura, tradição e sabedoria!

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